A instabilidade na Síria atingiu um novo patamar de violência após a queda do regime de Bashar al-Assad, em dezembro de 2024. Relatos de execuções sumárias e repressão contra a minoria alauíta evidenciam a crise humanitária e política que assola o país.
Os alauítas, grupo étnico-religioso que representa cerca de 10% da população síria, foram historicamente marginalizados, mas consolidaram poder com Hafez al-Assad, pai de Bashar, que governou de 1971 a 2000. Durante décadas, membros da comunidade ocuparam posições estratégicas no governo e no exército sírio, o que os tornou alvo de represálias após a ascensão do grupo islâmico Hay’at Tahrir al-Sham (HTS), de orientação sunita jihadista, ao comando do país.
Desde março de 2025, a província de Lataquia, reduto alauíta e berço da família Assad, tem sido palco de violentos confrontos. O novo governo, liderado por Ahmed al-Sharaa, afirmou que ataques foram iniciados por milícias leais ao antigo regime, o que desencadeou uma resposta militar severa. No entanto, organizações de direitos humanos denunciam massacres sistemáticos contra civis alauítas, com mais de 750 mortes registradas.
Vídeos verificados por entidades internacionais mostram execuções brutais, com milicianos armados insultando suas vítimas e declarando estar “purificando” o país. Testemunhas relatam que corpos foram abandonados nas ruas ou lançados ao mar, enquanto sobreviventes fogem em busca de segurança.
Em meio à pressão internacional, o presidente interino Ahmed al-Sharaa anunciou a criação de um comitê investigativo e prometeu punições para os responsáveis pelos ataques. No entanto, os esforços do governo para conter a crise são vistos com ceticismo por parte da comunidade internacional. Os Estados Unidos condenaram os massacres e pediram proteção para as minorias religiosas, enquanto a União Europeia alertou para o risco de agravamento da violência sectária.
A crise também gerou um êxodo de refugiados, com milhares de alauítas atravessando a fronteira para o Líbano. Organizações humanitárias como a Cruz Vermelha e o ACNUR tentam fornecer apoio aos deslocados, mas a crescente demanda por assistência preocupa os países vizinhos.
O futuro da Síria segue incerto, com tensões sectárias profundas e a possibilidade de uma insurgência alauíta contra o novo governo. Especialistas alertam que, sem uma solução política inclusiva, a violência pode se arrastar por anos, comprometendo ainda mais a estabilidade da região.