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O cenário político dos Estados Unidos foi abalado com a desistência de Joe Biden da corrida presidencial, trazendo uma dose significativa de incerteza para os mercados financeiros. Com as eleições presidenciais a apenas cem dias, os investidores adotaram uma postura cautelosa de “esperar para ver”.
A principal questão agora é quem substituirá Biden como candidato democrata. Apesar de Biden ter declarado apoio à sua atual vice-presidente, Kamala Harris, ainda não está claro se ela será a escolha final do partido.
“Estamos entrando em território muito desconhecido”, disse Paul Ashworth, economista-chefe para a América do Norte da Capital Economics. A saída de Biden elevou o nível de incerteza em Wall Street, com figuras proeminentes como Bill e Hillary Clinton e o governador da Califórnia, Gavin Newsom, manifestando seu apoio a Harris. A ex-presidente da Câmara, Nancy Pelosi, também declarou apoio a Harris, embora o ex-presidente Barack Obama ainda não tenha se pronunciado. Outros possíveis candidatos incluem a ex-primeira-dama Michelle Obama e o atual secretário de Transportes, Pete Buttigieg.
“A decisão sem precedentes de Biden introduz um coringa na campanha, possivelmente levando à volatilidade do mercado”, prevê Stefan Koopman, estrategista sênior do Rabobank. Se Trump mantiver sua liderança nas pesquisas e os investidores verem sua vitória como inevitável, o chamado “Trump trade” pode ganhar força.
Esse movimento de mercado, associado à desregulamentação, protecionismo comercial, cortes de impostos e aumento dos gastos fiscais, poderia resultar em taxas de juros mais altas nos EUA e um dólar mais forte. Certos setores, como bancos, empresas de saúde e companhias de pequeno valor de mercado (small caps), poderiam se beneficiar, enquanto as grandes empresas de tecnologia (Big Tech) continuariam sob pressão.
“Alguns aspectos do ‘Trump trade’ podem ser revertidos nesta semana”, observou Ed Mills, analista de política na Raymond James. “Ao menos até que haja maior clareza sobre a chapa dos democratas”, acrescentou Gina Bolvin, presidente do Bolvin Wealth Management Group.
Favoritismo de Trump
Pesquisas de opinião indicam que o nome de Michelle Obama seria o “mais competitivo”. No entanto, se Harris não for escolhida, o Partido Democrata corre o risco de parecer dividido, o que poderia dificultar suas chances em novembro, de acordo com o Eurasia Group.
Atualmente, os mercados de apostas favorecem Trump, dando-lhe uma chance de 60% de vitória. No entanto, suas chances de derrotar Harris são menores do que os 65% que ele tinha contra Biden. “Ainda parece claro que Trump tem maiores chances de ganhar contra qualquer outro democrata”, resumiu o economista André Perfeito.
Novas pesquisas que incorporem a ausência de Biden podem mudar essa dinâmica, especialmente se Harris conseguir reunir amplo apoio partidário para desafiar Trump, especialmente em estados indecisos, o que poderia deixar a corrida totalmente aberta.
Perfeito sugere que a melhor estratégia do Partido Democrata para reverter o favoritismo de Trump é não apresentar um candidato óbvio por enquanto. “Isso forçaria a campanha republicana a se espalhar sem um alvo definido”, explicou.
A Convenção Nacional do Partido Democrata está marcada para ocorrer de 19 a 22 de agosto, com o segundo debate presidencial agendado para 10 de setembro. Ashworth, da Capital Economics, enfatizou a necessidade de os democratas escolherem um novo candidato antes disso, principalmente por razões logísticas, garantindo que o nome esteja nas cédulas de todos os estados. No entanto, outros candidatos ainda podem surgir durante esse período.