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Após mais de duas décadas de negociações, o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE) aproxima-se de uma conclusão. Representando 25% do PIB mundial, o pacto enfrenta desafios históricos, especialmente no que diz respeito a questões de protecionismo agrícola e sustentabilidade ambiental. Apesar das divergências, especialistas defendem que sua aprovação pode trazer avanços significativos para ambos os blocos econômicos.
O impasse francês
A França, com um histórico de proteger seu setor agrícola, continua sendo uma das vozes mais críticas. Agricultores franceses temem não conseguir competir com o agronegócio brasileiro, que, segundo eles, não adere às mesmas normas de sustentabilidade e descarbonização aplicadas na Europa. Recentemente, Alexandre Bompard, CEO global do Carrefour, provocou tensões ao criticar a pecuária brasileira, mas recuou após um boicote do setor agropecuário brasileiro.
Apesar das preocupações francesas, o agronegócio representa apenas 3% do PIB do país, enquanto os consumidores franceses podem se beneficiar do acordo com maior acesso a produtos sul-americanos. Como a França não pode barrar o tratado sozinha, as negociações técnicas continuam, com expectativa de apresentação do texto final em dezembro de 2024, na reunião do Mercosul.
Benefícios esperados
Além de facilitar o comércio de produtos agrícolas e industrializados, o acordo pode atrair investimentos internacionais para o Brasil, melhorando a infraestrutura local. No entanto, a indústria sul-americana terá de se adaptar a um mercado mais competitivo, enquanto o agronegócio europeu enfrentará desafios semelhantes com a entrada de produtos do Mercosul.
“O acordo trará um choque de competitividade, o que pode ser positivo para o desenvolvimento das indústrias envolvidas”, explica Leandro Gilio, professor do Insper Agro Global.
As cotas e o protecionismo moderado
Um dos principais pontos do acordo são as cotas comerciais, que limitam o volume de produtos isentos ou com tarifas reduzidas. Por exemplo, a carne bovina brasileira terá uma cota adicional de 99 mil toneladas anuais para exportação à UE, um aumento modesto diante das 3 milhões de toneladas que o Brasil exporta globalmente.
Por outro lado, produtos europeus como vinhos franceses também terão cotas de entrada no Mercosul, protegendo as vinícolas locais. Quando ultrapassadas, as cotas impõem tarifas adicionais, como no caso da carne bovina, cujas taxas extra cotas permanecem elevadas.
Perspectiva de redução tarifária
Ao longo dos anos, o acordo prevê uma redução gradual do protecionismo. Em até 15 anos, a União Europeia eliminará taxas sobre 92% das importações agrícolas, enquanto o Mercosul reduzirá tarifas sobre 91% dos produtos importados. Para bens industriais, o prazo será de 10 anos para zerar as tarifas em ambos os blocos.
“Apesar de limitado, o acordo é um avanço necessário. Ele cria condições para que o mercado se adapte de forma gradual, sem rupturas abruptas”, destaca Marcelo Vitali, diretor da consultoria How2Go.
Oportunidade única para aprovação
O contexto atual favorece o fechamento do acordo. O apoio do novo presidente argentino, Javier Milei, e os impactos econômicos da guerra entre Rússia e Ucrânia, que pressionam o mercado europeu, tornam o momento propício para firmar o tratado.
Embora desafios persistam, especialistas concordam que a aprovação do acordo seria benéfica, promovendo maior competitividade, investimentos internacionais e preços mais acessíveis para os consumidores. Depois de 20 anos de negociações, o fechamento do tratado é visto como um passo estratégico para o fortalecimento econômico de ambos os blocos.